Pacientes 'quase' desenganados têm alta após tratamento diferenciado
Agência Estado - Por Fernanda Aranda - 16/03/2009 - 12:37
São Paulo - Vítimas de violência ou acidentes sentenciados a viver, para sempre, acoplados aos aparelhos hospitalares. São tantos pacientes com internação perpétua em São Paulo que, ano passado, uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) só para abrigá-los foi construída. É neste local, que acaba de completar um ano, que três pacientes conquistaram recentemente a desacreditada alta depois de receberem um tratamento diferenciado. "Por vezes se fala em estudos caríssimos sobre novos medicamentos, mas os médicos esquecem de dar bom dia aos pacientes", conta Auro Buffani, supervisor da UTI do Arnaldo.
Foi no Hospital Estadual Arnaldo Pezzuti, em Mogi das Cruzes, Grande São Paulo, que foram reservados 10 leitos de cuidados intensivos para serem a “casa” de Thalita, Roberta, Ricardo, João, Maria... Em comum, todos tiveram histórias interrompidas. Um dia acordaram e a violência urbana destruiu seus sonhos. Estavam espalhados por muitas unidades de saúde, recebendo cuidado, mas sem previsão de alta. A Secretaria de Estado da Saúde decidiu reuni-los e tentar oferecer um tratamento que foi além da tecnologia, equipamentos ou dinheiro.
As paredes do hospital são coloridas, os horários de visita irrestritos e o número de visitantes também. Televisão, rádio, música, histórias, livros e cinema tudo faz parte do dia a dia. Um aquário de peixes beta recepciona pacientes e visitantes. Festas de aniversário são organizadas com bolo de três andares (de isopor, claro, para não dar infecção). Com cadeiras de roda especiais, os pacientes são levados para um banho de sol no jardim. Muitos deles ficaram anos, por vezes a vida toda, sem ver a luz solar.
Thalita da Silva Abreu, aos 18 anos, levou um tiro na região cervical, perdeu a consciência, a fala, os movimentos. Acordou em um hospital de São Bernardo do Campo, onde permaneceu por 10 meses, quase imóvel. Em nenhum desses 300 dias, o namorado Leandro Ramos, 22 anos, deixou de visitá-la. Eles estavam juntos havia um ano quando a bala atingiu Thalita pelas costas. O autor do disparo foi seu ex-namorado. Não havia chance de cura para a jovem. O perfil clínico a enquadrava entre os pacientes adultos que estavam sendo transferidos para a UTI do Arnaldo Pezzuti. Lá, passou três meses e, aos 20 anos, enxergou a luz no fim do túnel. Teve alta, fez curso de informática, conversa e já faz planos de se casar com Leandro.
Liberdade
A história da UTI do Arnaldo Pezzuti, que acaba de completar um ano, não tem só Thalita como capítulo de sucesso. Três meses após a primeira alta, foi a vez de Roberta Raicia, 17 anos, ganhar a liberdade. Ficou “presa” em um hospital durante um ano, desde que o acidente de carro a deixou tetraplégica e com dificuldade de respirar. No Arnaldo, já morava há seis meses quando, em dezembro, veio a alta e ela voltou para Minas Gerais, onde nasceu. Agora, a história do Arnaldo está sendo escrita por Ricardo, 30 anos. Vítima de um acidente de moto, os médicos também falaram em internação para a vida inteira. Ele ficou três anos na UTI, 10 meses deles na nova unidade. Agora, se prepara para voltar para a cama que sempre soube que voltaria a ser sua.
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